quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Madeirense

Em 1961 a Empresa de Transportes do Funchal encomendou aos Estaleiros de São Jacinto, em Aveiro, um navio para efectuar a ligação entre  Lisboa e o Funchal  com carga geral , e com porões ventilados para transportar a famosa banana da Madeira para Lisboa.O navio também deveria ter acomodaçoes para 12 passageiros.

Madeirense saindo de Lisboa




 Assim nasceu o Madeirense, navio misto de carga e passageiros com 70.36 mt de comprimento, 11.03 mt de boca, 5.35 mt de pontal, 1 maquina diesel Werkspoor de 1450 hp que lhe dava uma velocidade  máxima de 12  nós. Disponha de 2 porões servidos cada um por um conjunto de paus de carga. Á popa tinha um pequeno porão para carga frigorífica e excelentes acomodaçoes para passageiros com 4 dos camarotes com casa de banho privativa, o que para a época era raro.
Jenny, ex  Funchalense, irmão mais novo do Madeirense





 Até 1989 o Madeirense fez ligaçoes quinzenais com Lisboa , alternando com o gémeo Funchalense, escalando por vezes o Porto Santo, onde transportava passageiros de e para o Funchal e carregava conservas de peixe da extinta fabrica de conservas do Porto Santo, com destino a Lisboa.

Madeirense no Funchal a descarregar carga geral  na decada de 60


Nos anos sessenta ainda não tinha chegado a era do contentor, pelo que a estadia nos portos para carga e descarga era muito demorada, sendo em média quatro a cinco dias. Na altura o Porto Santo não tinha Porto, pelo que o Madeirense fundeava ao largo sendo o transbordo feito em lanchas.
Com o aparecimento dos contentores o Madeirense tornou-se obsoleto sendo vendido á Porto Santo Line em 1989, para a ligação Funchal/Porto Santo, no transporte de mercadorias que na altura era feito por dragas, (aqui chamados areeiros) fretados para o efeito.


Madeirense chegando ao Porto Santo com contentores
(©) Copyright foto: Elvio Leão



Rumou para Lisboa em Março de 1990 para efectuar uma grande reparação, tendo sido feito um prolongamento do tombadilho das baleeiras para a popa, para aumentar o numero de passageiros para 120, assim como a cobertura do dito prolongamento. Foi montado um gerador de corrente alterna para alimentar contentores frigorificos , lembro que na altura da construção os navios disponham apenas de corrente continua, e sempre que era necessário montar um aparelho de corrente alterna, um radar por exemplo, tinham que montar uma comutatriz.
Foram tambem retirados os paus de carga e decapado o casco, que ficou com um aspecto de novo.




O Madeirense começou em ligaçoes regulares em Maio de 1990, transportando carga e passageiros. Tinha capacidade para 19 teus, cerca de 2 dezenas de automoveis estivados em cima dos contentores, no convés e nas cobertas, e muita carga geral, assim como 120 passageiros. Fazia uma ligação semanal regular com saída do Funchal na quarta á tarde e saída do Porto Santo á segunda depois do almoço, isto durante o inverno, fazendo no entanto, sempre que necessário, viagens extraordinárias.  Durante o verão o navio fazia quatro viagens semanais com saida do Funchal as terças ,quartas, sextas e domingos e do Porto Santo ás terças quintas, sabados, e domingos.

Madeirense atracado no Porto Santo
(©) Copyright foto: Elvio Leão



Com boas e más viagens o Madeirense abasteceu o Porto Santo até outubro de 1996, altura em ficou   imobilizado no Funchal. Em Janeiro 1998 fez a derradeira viagem para o Porto Santo, já com os certificados de navegação expirados mas com uma autorização da Capitania do Porto do Funchal.
Depois de decidido o seu afundamento ao largo do Porto Santo, foi retirado do navio tudo o que era susceptível de causar qualquer tipo de poluição, assim como todas as vigias e aparelhos, ficando o navio reduzido a carcaça.
 Finalmente a 21 de Outubro de 2000 o Madeirense foi rebocado para o seu ultimo destino, e depois de fundeado pela proa e pela popa, foram feitas aberturas no casco para o afundamento ser mais rápido. Depois de algumas horas a lutar pela flutuação o Madeirense rendeu-se a força do mar e afundou de proa com lágrimas  de todos os que assistiam tanto de terra como das várias embarcações que para lá se dirigiram.
Hoje o recife artificial Madeirense é um ponto obrigatório do mergulho.. Ainda que a 30 metros de profundidade não foi esquecido e será sempre o nosso MADEIRENSE


Se alguém se achar no direito de reclamar a autoria de algumas fotos por favor contacte-me que eu as retirarei, o que seria uma perda para a informação deste post.





Texto Elvio Leão

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